Junta de Freguesia de Sapataria Junta de Freguesia de Sapataria

História

Referência à Sapataria na Idade Média tardia

 

A obra da autoria de Fernão Lopes refere que D. João I (1357–1433), conhecido como o Mestre de Avis e decimo rei de Portugal,, ao retirar-se o cerco de Lisboa, pernoitou nesta povoação de Sapataria, conforme citação que se remete:


                    “Aos cinco dias do dito mês, uma segunda-feira pela manhã, partiu el-reyde sobre a cidade, caminho de Torres Vedras, com toda sua gente, como quer que de noite começaram muito dencaminhar, cada um como melhor podia. […] E começando el-rei seu caminho, muito mais triste que ao cerco viera de ledo, e chegando a tal lugar que perdia vista da cidade, voltou o rostro contra ela, e dizem que disse: ‘Oh Lisboa! Lisboa! Tanta mercê me faça Deus que ainda te veja lavrada de ferros e arados! […] morendo alguns pelo caminho e nos lugares hu depois chegou. E foi esse dia dormir a Sapataria, que são cinco léguas da cidade; e em outro dia a Torres Vedras, que eram ali três”*

 

*LOPES, Fernão - Chronica DelRey D. Joam I de Boa Memoria e dos Reys de Portugal o Decimo : primeira parte [-terceira...] ... : offerecida a Magestade DelRey Dom Joam o IV. N. Senhor de miraculosa memoria / composta por Fernam Lopez. - Em Lisboa : a custa de Antonio Alvarez Impressor DelRey, 1644.


Referência à Sapataria a propósito da restauração de 1640

 

A dinastia espanhola dos Filipes governou o país entre 1580 e 1640, altura em que o futuro D. João IV liderou uma revolta que afastou os castelhanos do trono. A figura de D. Rodrigo da Cunha, arcebispo de Lisboa, interveio nos preparativos e no golpe de 1 de dezembro. O Arquivo Patriarcal de Lisboa possui documentos que comprovam que o próprio visitou a Sapataria dias antes da Restauração:


                    “(…) D.  Rodrigo da Cunha empenhou‑se  em  convencer  o  duque  de  Bragança  a  aceitar  o  “reino  que  lhe  damos”.  Nesse  sentido,  escreveu‑lhe  a  declarar  que,  se  ele  se  recusasse  a  ser  rei,  falariam  ao  irmão  D.  Duarte  e  depois  ao  Duque  de  Sabóia  (descendente  de  D.  Manuel I), evidenciando o  seu  comprometimento  em  solucionar a difícil situação de não haver quem estivesse aberto a assumir o trono em caso de  sucesso  da  insurreição.  Após  longas  negociações,  no  dia  24  de  novembro  de  1640,  D.  João  garantiu  que,  embora  não  participasse  diretamente  no  golpe,  se  este  triunfasse, aceitaria ser rei de Portugal. O arcebispo de Lisboa, entretanto, de 29 de outubro a 21 de novembro, andou em visita pastoral no distrito de Torres Vedras. Terminou‑a  na  freguesia  de  Sapataria,  localidade  que  ficava  a  cerca  de  um  dia  de  caminho de Lisboa”*

 

*Arquivo  Patriarcal  de  Lisboa  –  Livro  de  visitas  a  Torres  Vedras,  ms .  106  e  Isaías  da  Rosa  Pereira  –  No  4º  centenário  da  morte de D . Rodrigo da Cunha, arcebispo de Lisboa . Anais da Academia Portuguesa de História . 30 (1985), p. 283. (pode conferir o artigo completo aqui: https://revistas.ucp.pt/index.php/lusitaniasacra/article/view/5378).


 

A Freguesia e a paróquia n’As Memórias Paroquiais de 1758

 

As Memórias Paroquiais consistiram em inquéritos que tiveram lugar em 1758, três anos após o sismo de Lisboa de 1755, a mando de Marquês de Pombal. O questionário foi enviado a todos os bispos das dioceses do reino, para que fossem respondidos pelos seus párocos e remetidas as respostas à Secretaria de Estado dos Negócios do Reino.

A tarefa de proceder à organização das respostas de todos os documentos coube ao Padre Luís Cardoso, sendo concluída em 1832, já depois do seu falecimento, altura em que se terá completado o índice de todas as respostas.

O Cura Filipe da Silva Cardoso, da Sapataria, deu respostas ao interrogatório nos seguintes termos:


                    “A Freguesia de Nossa Senhora da Purificação de Sapataria, está localizada na província da Estremadura, dentro do termo de Lisboa e de seu patriarcado. Tem 151 fogos, 515 pessoas maiores e menores 53. A Paróquia foi fundada entre os lugares de Montar (agora Moita) - 9 moradores; Sapataria - 10; Azenha – 3; Bica – 5; Bouco – 3; Sizandros – 3; Dos Godeis – 3; Silveira – 12; Montellas – 11; Pero Negro – 30; Casal Cochim – 9; Dos Galegos – 4; Estrada N. Sr.ª. Da Guia – 10; Sarreira – 24 e São Martinho – 4 moradores espalhados. Mais os Casais e as Quintas”.

                    “O Orago da Freguesia em algum tempo era Santa Maria dos Sizandros como se vê pelas escritas antigas. Porém há mais de um século (lembra-se que esta resposta era de 1758) se intitulava N. Sr.ª. da Purificação. O cura apresentava todos os anos ao Prior e beneficiados da Colegada de São Julião de Lisboa, a congrua juntada pela população. Cada ano se elege dois homens, Mordomos, para a Confraria (depósito de congruas) de N. Sr.ª. da Purificação, e quatro homens, Mordomos, para a Confraria do Santíssimo. A Congrua anual era de: um meio de trigo, 30 alqueires de cevada, uma pipa de vinho, 1 cântaro de azeite e 2 mil reis em dinheiro”.

Havia naquela época várias Ermidas, informou o Cura em 1755, sendo: a mais perto da Igreja de Sapataria, era a do Espírito Santo, junto à Quinta do mesmo nome, com uma Capela de que era Administrador José Ballet da Cunha Manuel.

Outras Ermidas a notar n’aquela época eram: a Ermida de São Sebastião situada no lugar de Moita; a Ermida de N. Sr.ª. da Salvação, situada no lugar de Silveira; a Ermida de N. Sr.ª. do Desterro, situada no lugar de Pero Negro; a Ermida de N. Sr.ª. da Guia, na borda da estrada que vai para Torres Vedras. Por tradição, dizem que n’aquelle sitio aparecera uma Imagem da mesma evocação da Guia, que n’aquella época se venerava em uma Ermida no lugar de Sarreira; a Ermida de São Martinho, situada em uma serra do mesmo nome que ficou arruinada no terramoto de 1755; a Ermida de São Luiz que se achava arruinada antes do terramoto, no lugar de Bica; a Ermida do Senhor Jesus, no lugar de Molhados.

A primeira Ermida de que se fala era governada pelo Administrados que dava contas ao Provedor das Capelas, da sua renda que era limitada, não passando de 32 alqueires de trigo, as outras eram governadas pelos oficiaes da Igreja, exceptuando as duas últimas que eram particulares. A da Bica era junto à Quinta de Bica dos Sizandros, que tinha como padrão a família de Barbuda, já residente na quinta por mais de um século. N’aquelle tempo a dona da casa era Mariana Bernandina de Barbuda, casada com Eleutério Ignácio de Miranda, os quais depois do terramoto fizeram uma remodelação da Casa da Quinta, nos anos de 1755–1759. O elemento mais antigo, conhecido, era Gonçalo de Barbuda, que era cavaleiro de hábito de São Thiago, mais ou menos no fim do século XVI.

Numa descrição que deu, o Cura aborda algumas informações gerais da zona:


                    “O clima era sadio, o vale muito cheio, não só de árvores frutíferas mas de muitas silvestres, abundantes de lenha. Da parte da Nascente (suponhamos a Bica) tem um monte chamado Regodinho, assim n’elle como na distancia da sua róda, o que pudera compreender meio quarto de légua se achavam umas pedras, às quais os naturais da terra chamam «mamarainhas». A sua figura de forma de uma bolota e outras mais pequenas, tendo só a diferença de acabarem de uma banda em bico – são autênticos fosseis. Sapataria tem 12 moinhos de vento, duas azenhas de água e dois lagares de azeite; destes últimos o da Quinta da Bica é possivelmente um ainda existente”.

                    “Sapataria era famosa pela fruta de toda a casta e de admirável gosto. Também das frutas de terra, produzia pão, vinho, azeite, legumes de toda a casta; em ano mediano poderia recolher (ano mediano de 1755-1759): 130 meios de trigo; 120 meios de cevada; 400 meios de milho; 200 alqueires de legumes de toda a casta; 120 pipas de vinho; 25 pipas de azeite”.

 

 

O mesmo Cura também descreveu nas suas respostas que Sapataria tem muitas fontes e todas de excelente água, especialmente a da Bica de Sizandros que deitando tal quantidade de água, fazendo repreza, em pouca distância, mói uma azenha, e servindo as águas no verão de fertilidade às terras por onde passam, assim em hortas como no mais.

                       “NUNCA SE EXPERIMENTOU ELA SECAR E NOS ANOS DE MAIOR SECURA FOI MUITO DIMINUTA A SUA FALTA.  Gente vindo de muitas partes vem buscá-la em pipas. Tem-se visto em muitas ocasiões deitar enguias pela Bica fora. Nesta fonte tem seu principio o rio chamado SIZANDRO que correndo até Dois Portos e passando por Torres Vedras se vai meter na foz da Rendida”.

No terramoto de 1755 alguma ruína experimentou a Igreja de Sapataria, mas não de forma que impedisse o serviço para os ofícios divinos. Algumas casas tiveram igual ruínas mas não pareceu ninguém.

 


 

A Freguesia durante a Guerra Peninsular (1807–1814)

A Guerra Peninsular decorreu entre 1807 e 1814, na Península Ibérica e fez parte de um conflito mais abrangente que afetou toda a Europa – As Guerras Napoleónicas.

As Linhas de Torres Vedras foram um sistema militar defensivo, erguido a norte de Lisboa, entre 1809 e 1810. O futuro duque de Wellington, traçou uma estratégia de defesa que consistiu em fortificar pontos colocados no topo de colinas, para controlar os caminhos de acesso à capital de Portugal, reforçando os obstáculos naturais do terreno. Este sistema, constituído por três linhas defensivas, estendia-se entre o oceano Atlântico e o rio Tejo, por mais de 85 km. O presente descrição faz referência ao Rio Sizandro:


                    “[…] memoráveis linhas de Torres Vedras, com sete léguas de extensão, cuja direita se apoiava na margem direita do Tejo, junto á villa de Alhandra, e a esquerda no mar e foz do rio Sizandro, duas léguas para alem de Torres Vedras”*.

* Simão José da Luz Soriano - História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal, segunda época, Tomo II, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, p. 542.

 


Retrato de Arthur Colley Wellesley, 1.º Duque de Wellington. Retrato por Thomas Lawrence, 1814. ( © Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)

 

Na localidade de Pêro Negro, situa-se a casa onde, em 1810, Wellington instalou o seu quartel-general. Tratava-se de uma casa agrícola, conhecida por Quinta dos Freixos. A cerca de 1 Km, em Casal Cochim, o marechal William Carr Beresford também estabeleceu o seu quartel-general (Quinta Nova de Nossa Senhora). Ambos ficavam a meio caminho da estação central de comunicações, na serra do Socorro. Veja-se a seguinte descrição deste general inglês:

 

                    “O marechal Beresford (sir William Carr Beresford), comandante em chefe do exercito portuguez, tenente general ao serviço de sua majestade britannica, cavaleiro da muito distincta e honrada ordem do Banho, era por nascimento irlandez, e membro de uma ilustre família, que se dizia uma das principaes d’aquelle reino. Severo, intrépido e firme de caracter, justo é dizer que o seu nome é e será sempre entre nós mais celebre (…) á frente do qual fez a memorável campanha da India, que terminou pela destruição do imperio do Tippo Saib e da tomada de Seringapatão […] No comando do exercito portuguez tornou-se sobremaneira notável em o organizar e disciplinar, desde os preceitos da mais perfeita instrucção e manobra até aos últimos rudimentos da economia militar, nada absolutamente escapando aos assíduos cuidados e diligencias que para similhante fim empregou. Resoluto por genio e systematico por princípios, nunca se preocupou com ameaças”*.



Retrato de William Carr Beresford, Retrato por Sir William Beechey (1815). ( © Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)

 

* Simão José da Luz Soriano - História da Guerra Civil e do Estabelecimento do Governo Parlamentar em Portugal, segunda época, Tomo II, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, p. 86 (pode consultar a obra completa aqui: https://purl.pt/12103/4/hg-7352-v/hg-7352-v_item4/hg-7352-v_PDF/hg-7352-v_PDF_24-C-R0150/hg-7352-v_0000_1-675_t24-C-R0150.pdf )



 


A Sapataria durante a Monarquia Constitucional (1820-1910)

Sapataria, pertenceu ao termo de Lisboa, sendo um curato de apresentação do Prior da Freguesia de São Julião. Em 25 de Setembro de 1833, data em que para efeitos judiciais de dividiu Lisboa e seu termo, o Concelho de Arruda dos Vinhos compunha-se das Freguesias de Arruda dos Vinhos e Cardosas e o de Sobral de Monte Agraço tinha apenas a Freguesia de Sobral de Monte Agraço. As Freguesias de Arranhó, Santiago dos Velhos, Santo Quintino e Sapataria pertenciam ao termo de Lisboa.

Em 6 de Novembro de 1836, a Freguesia de Sapataria passa para o Concelho de Enxara dos Cavaleiros. Em 24 de Outubro de 1855 extinguem-se os Concelhos de Enxara dos Cavaleiros e Sobral de Monte Agraço, sendo incorporadas as Freguesias de Sapataria, Santo Quintino e Sobral de Monte Agraço no Concelho de Arruda dos Vinhos.

Em cumprimento do determinado no Código Administrativo de 26 de Junho de 1867, a Freguesia de Sapataria juntamente com a Freguesia de Enxara do Bispo, formam a Freguesia de Enxara do Bispo, do Concelho de Mafra, sendo, porém, revogada a 14 de Janeiro de 1868.

Com a restauração o Concelho de Arruda dos Vinhos em 1890, a Freguesia de Sapataria fica a si associado. Em 26 de Setembro de 1895, são extintos de Arruda dos Vinhos e de Sobral de Monte Agraço, passando Freguesias de Sobral de Monte Agraço, Santo Quintino e Sapataria para o Concelho de Torres Vedras.

 

Em 13 de Janeiro de 1898 são restaurados os Concelhos de Arruda dos Vinhos e Sobral de Monte Agraço, ficando este último com as Freguesias de Sobral de Monte Agraço, Santo Quintino e Sapataria.

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